segunda-feira, 14 de junho de 2010

Capa no Mundo

Época de Copa de Mundo é sempre uma alegria constante. No Brasil, país do futebol que é reverenciado por todo o planeta pela ginga, pela alegria de suas crianças e jovens ao adentrarem as quatro linhas para jogar o tão aclamado futebol, é uma festa que impressiona. É justificativa para deixar de comparecer aos postos de trabalho, motivo para que o Serviço Público deixe de “trabalhar”, enfim, este evento é estabelecido como prioridade acima de inúmeros outros.

Ao falar do nosso país também falamos de um país miscigenado, país que é representado não somente pelo verde, amarelo, azul e branco, mas pelas cores, e diversas cores, de seu povo – o amarelo, o negro, o branco, o pardo, o mulato, etc. Condição esta que reflete um dos propósitos de eventos mundiais como a Copa do Mundo. Assim como as Olimpíadas, Jogos de Inverno, etc., a integração que se produz entre os mais diferentes povos do mundo através do esporte é, de fato, comovente.

No mês passado assisti a uma partida preliminar entre as seleções de Costa do Marfim e Coréia do Sul que me fez refletir sobre a representatividade do esporte, e dos eventos que enaltecem o esporte, no que tange a tolerância e o respeito entre os pares. O momento que é dedicado às disputas esportivas deixa de lado, ou pelo menos em 2º plano, disputas políticas e econômicas, preservando, mesmo que por um breve momento, a paridade entre os jogadores, as torcidas e, em última estância, as nações.

Lembro-me de jogos entre os Estados Unidos, Irã, Egito, Argélia, e outros momentos politicamente conturbados que foram, no momento da partida, deixados de lado pelo esporte. Esse sentimento de paz e disputa sadia que deve ser espalhado pelos diferentes continentes do mundo, sem deixar de lado as discussões e acertos políticos, mas que o enfoque fosse o respeito e o melhor benefício dos povos.

Em 2014 seremos agraciados por este momento esportivo (Copa do Mundo), e logo em seguida, 2016, seremos também sede das Olimpíadas – o primeiro país da América Latina. Serão gastos bilhões em investimento de infra-estrutura (de capital[1]) e nos eventos (de custeio[2]), o que implica num custo de oportunidade[3]. O foco de investimento será para construir e viabilizar as competições esportivas e o acesso do público aos mesmos, mas num contexto econômico de recursos limitados, e em se tratando de um país como Brasil, em desenvolvimento, essa é a política de governo adequada?

Na realização do Pan, gastamos 3 vezes mais ao orçamento inicial planejado e não conseguimos concluir as obras. Hoje temos uma estrutura abandonada, e o estádio do Botafogo. Gastamos 18 bilhões de reais para construir o estádio do Botafogo!

Desde o ano retrasado foram iniciadas no país as obras, ou a contratação dos projetos das obras, para modernização da infra-estrutura já existente e a construção daquilo que se fizer necessário. As partidas oficiais em que participam os times mineiros foram deslocadas para os estádios de Sete Lagoas e Ipatinga, que receberão uma “pincelada de tinta”. Em Belo Horizonte, foram distribuídos (com fundos da prefeitura) entre a população testes de certificação em inglês para quantificar o potencial lingüístico da cidade assim como permitir que o capital humano belo horizontino pudesse pleitear a determinadas vagas que serão geradas pelo advento da Copa do Mundo.

Será que é necessário e devido esse tipo de gasto? Essa é a forma correta de investir o dinheiro público? Esse tipo de questionamento não conseguimos ver na imprensa. Será que não é plausível de discussão? Quer dizer, não há discussão na grandiosidade do evento e de sua importância, como citado anteriormente, a questão é que se esse tipo de esforço é pertinente! Não só pelo investimento em si, mas por outras questões que não são abordadas nesse processo, ou onde e com o quê se deixa de gastar/investir para alocar tamanha quantidade de dinheiro PÚBLICO dessa forma.

Num outro pólo dessa discussão, temos o Quirguistão – país da Ásia central – que mantém um dos piores conflitos dos últimos 20 anos, que já ultrapassa os 100 mortos. Israel invade e domina um navio com ativistas políticos que levavam mantimentos para os povos palestinos isolados na Faixa de Gaza – contrariando, inclusive, diretriz da ONU. Os diferentes, e constantes, ataques palestinos matam 2, 6, 12, 20, e vão continuar matando Israelenses na Cisjordânia. No Quênia, as discussões acerca da nova Constituição provocam disputas entre as etnias da região, e assim os atentados correspondentes.

Coincidentemente, ou não, esses países não participam da Copa. Por isso não é necessário divulgar essas notícias? Nós, cidadãos, não devemos ser informados dessas questões? A constante compensação das atrocidades do Nazismo contra a Palestina não merece ser discutia na Globo? Ao invés de anunciar a catástrofe da Holanda, Inglaterra e Alemanha que tiveram seus principais atletas lesionados tão próximo à Copa?

A Copa do Mundo, as Olimpíadas, e todos outros eventos esportivos, dos menores aos maiores, são extremamente importantes sob os mais diferentes aspectos. Seja economicamente, social ou politicamente. Mas tratam-se de eventos que beneficiam uns em detrimentos a outros. O Poder Público deve alocar da melhor forma possível os recursos oriundos das demasiadas taxas e impostos que pagamos, e de forma alguma restritivamente! Por que investir 18 bilhões no Rio de Janeiro e não em João Pessoa, Teresina, etc. ou alguma outras cidade do Nordeste ou do Norte do país, regiões estas que são, notoriamente, desprivilegiadas quando comparadas às regiões sul e sudeste?

Mas, novamente, essas discussões são menores, não merecem destaque. Importante mesmo é saber se o Presidente concorda com a escalação do Dunga e deixar os outros 6 anões tranqüilos com a Branca de Neve no Irã, preparando mais uma maçã atômica!


Bibliografia

http://g1.globo.com

http://www2.almg.gov.br/hotsites/orcamento/glossario.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Custo_de_oportunidade



[1] Classifica-se como despesa de capital o grupo de despesas que contribuem para formar um bem de capital ou adicionar um valor a um bem já existente, assim como transferir, por compra ou outro meio de aquisição, a propriedade entre entidades do setor público ou do setor privado para o primeiro. Constituem o grupo de despesas da administração pública destinadas à aquisição ou construção de bens de capital que se incorporam ao patrimônio público ou são capazes de gerar novos bens ou serviços
Exemplos: compra de equipamentos como micros, equipamentos de TV, mesas, cadeiras, carros, utensílios em geral, construção ou reformas de prédios, estradas, etc. Tudo o que não se consome, que é acrescido ao patrimônio.

[2] Classifica-se como despesa corrente o grupo de despesas operacionais realizadas pela administração pública a fim de promover a execução, a manutenção e o funcionamento de suas atividades. Tais despesas não contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital.
Exemplos: compra de material de consumo interno como papel higiênico, copos descartáveis, material de limpeza, despesas de pessoal, contratação de serviços de terceiros, etc.

[3] O custo de oportunidade é um termo usado na economia para indicar o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada, ou seja, o custo, até mesmo social, causado pela renúncia do ente econômico, bem como os benefícios que poderiam ser obtidos a partir desta oportunidade renunciada ou, ainda, a mais alta renda gerada em alguma aplicação alternativa.

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