domingo, 6 de junho de 2010

“EPIDEMIA DE VIOLÊNCIA”

Psicóloga observa que surto de atos violentos demonstra falência de estruturas que impõem limites ao ser humano e evitam manifestações da maldade

Atos violentos noticiados diariamente pelos veículos de comunicação chocam a população, mas também levantam discussões. Entre elas, está o questionamento sobre o motivo dos crimes. Talvez essa seja a primeira questão que venha à cabeça e, talvez, seja a mais difícil de responder. Ao se deparar com certos fatos é difícil o cidadão não pensar que a maldade é um sentimento intrínseco ao homem. Para tentar entender o que é a maldade e sua presença na sociedade, foi entrevistada a psicóloga e psicanalista Juliana Gubbiotti.

O que é a maldade? É uma incapacidade de distinguir o bem do mal?
JB: Não é incapacidade. A pessoa que pratica maldade nem pensa em distinguir uma coisa da outra. Quem planeja algo mau não sente remorso pelas conseqüências.

As noção de maldade muda de acordo com a época?
JB: Vemos a todo momento, nos noticiários, algo que nos choca profundamente: os crimes brutais. Famílias dizimadas, agressões e total desrespeito ao outro. Há o declínio do respeito àquele que impõe as regras, às figuras de autoridade: polícia, juízes e professores. Essas figuras têm falhado em fazer valer os contornos dos limites permitidos. Com a quebra deste poder de proibição vemos o “tudo pode”. E a maldade está ligada a isso. Os pais devem colocar para as crianças a proibição ao “tudo poder fazer” e a qualquer custo. Essa lei simbólica deve ser instaurada desde cedo para que se desenvolvam laços sociais para a vida em comunidade, possibilitando sermos capazes de trabalhar, amar, conviver. A violência é uma manifestação de estruturas que faliram.

Como a sociedade pode reagir diante de casos de violência?
JB: É necessário acreditar que há punição para o mal para vivermos bem. O aso dos Nardoni mostra como a sociedade se uniu a partir do que a mídia mostrou. Acreditaram e buscaram respostas. As pessoas podem se indignar, ir às ruas.

A maldade é um conceito ético, moral ou cultural?
JB: Não é possível separar esses conceitos. A maldade faz parte de um contexto e deve ser classificada nos três sentidos.

A maldade é um componente do ser humano, assim como a bondade?
JB: O que nos faz conviver e viver bem é o equilíbrio. Ninguém é só bom nem só mau. Até o considerado mau já pode ter feito algum ato de bondade um dia.

Entrevista realizada por Raquel Ayres (adaptada)

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