domingo, 4 de abril de 2010

Mitologia Grega: Eirene, a Deusa da Paz

A Deusa da Paz, Eirene, também conhecida por Irina, na mitologia grega, é uma das Horas (Hôrai, em grego antigo, significava, estação), divindades que se caracterizavam por personificar alguns períodos de tempo. A paz era, então, considerada, entre os gregos, como algo passageiro, temporário.
Segundo a Teogonia do mitógrafo Hesíodo, era filha de Zeus com sua segunda esposa Themis, irmã de Eunomia, a Ordem ou Disciplina, e Diké ou Dice, a Justiça. O trio de irmãs formava uma trindade de divindades que, na Grécia, personificavam o ano e as estações, protetoras das plantas jovens e da infância e da juventude. Juntas, garantiam a boa ordem da natureza e das coisas humanas. Elas compunham um grupo de divindades de menor hierarquia que integravam o séqüito de Afrodite, a deusa da beleza e do amor, uma das doze divindades gregas do Olimpo.
Eirene era a personificação da paz para os gregos e romanos. Ela era venerada em Atenas desde o tempo dos sofistas (374 a. C.), quando os atenienses firmaram paz com os espartanos. A deusa Pax para os romanos, era uma bela jovem, com sua cornucópia com frutos, mas era sempre representada com um cetro em suas mãos, que representava sua soberania. Também a representação artística da deusa com o garoto Pluto nos braços ficou especialmente famosa. Na literatura grega, o texto que melhor expressou esta deusa foi A Paz, uma comédia de Aristófanes.

A Paz ( teatro grego)
A peça A Paz é uma das comédias de Aristófanes. Foi apresentada nas Grandes Dionísias de 421 a.C., a um público de atenienses e não-atenienses, apenas alguns meses antes da assinatura da Paz de Nícias, entre atenienses e Lacedemônios. O contexto era o da Guerra do Peloponeso, na iminência do fechamento de um tratado de paz.
Resumo da comédia: Trigeu, lavrador ateniense que vivia em um lugarejo da Ática do cultivo de suas vinhas, resolve subir ao céu, montado num escaravelho, para perguntar aos deuses a causa dos males que afligiam a Grécia, às voltas com interminável guerra entre os helenos. No Olimpo, ele encontra apenas Hermes; os demais deuses haviam-se retirado para regiões ainda mais altas do firmamento, resolvidos a não mais presenciar a discórdia que levava os gregos ao extermínio. Hermes, a princípio relutante, resolve responder às perguntas de Trigeu, que explora a gula do deus remanescente; mostra-lhe a Guerra personificada, disposta a pulverizar as cidades gregas em um imenso pilão, enquanto a Paz permanece prisioneira no fundo de uma caverna, cuja entrada está obstruída por grandes pedras. Trigeu quer libertar a prisioneira a todo custo. Por isso convoca os trabalhadores de todas as regiões da Grécia, gente do campo, os mais sacrificados com a guerra. Depois de muitos esforços conseguem libertar a prisioneira e com ela voltam aos gregos a abundância e a alegria. Somente os fabricantes de armamentos não compartilham do contentamento geral, pois o fim da guerra os arruina. A peça termina com o casamento de Trigeu e da Abundância, companheira da Paz.
Aristófanes defendia a existência da polis como único modelo político que parecia funcional. Com o receio de que Atenas entrasse em completa ruína devido aos longos anos de conflito, problematiza a Guerra na peça, destacando seus aspectos negativos.
Ele tenta persuadir o povo de que a guerra estava abalando as estruturas da cidade, que a população urbana se beneficiava dos embates, enquanto a população rural era obrigada a abandonar as lavouras e a calmaria do campo para ir para o conturbado convívio social do espaço urbano. O autor cria um simples herói camponês, associa todos os prazeres da vida à presença da paz, hostilizando aqueles que da guerra se beneficiavam. Seu objetivo era, por meio da sátira, do uso de personagens que tocassem a maioria do público (que era proveniente do espaço rural), da representação de festas (muito atrativas naquela época), conscientizar o campesinato de que eles tinham poder e podiam fazer alguma coisa para estabelecer uma trégua e, conseqüentemente, o equilíbrio. Na verdade, Aristófanes não defendia urbanos ou rurais, mas sim a polis e achava que a guerra abalava as estruturas desta.
Várias tréguas entre atenienses e Lacedemônios ocorreram, mas o ideal de paz de Aristófanes não foi alcançado. Era impossível retornar ao estado anterior a guerra, pois a população já havia sofrido grandes conseqüências de dez anos de conflitos e Atenas continuava com a sua supremacia sobre as demais cidades. Assim, não demorou muito para que novos conflitos voltassem a ocorrer.
Guerra, do germânico werra, significando discórdia, combate. Paz, do latim pax, exprime o sossego, a tranqüilidade, a calma, a normalidade, a quietude, em que se mostram as pessoas ou as coisas, sendo, no sentido do Direito Internacional, a ausência de luta ou de conflito de um Estado com outro. Guerra e paz sempre foram vistas como contrárias e excludentes. Manter a paz sempre foi um desafio para os povos para que pudessem viver bem e manter a tranqüilidade e a ordem na sociedade, essencial para sua sobrevivência. Mas a guerra, muitas vezes, “falou mais alto” que a paz. Valorizava-se a guerra porque acreditava-se que ela traria a paz (o que é um engano). Os conflitos se justificavam pela conquista ou defesa de um território, pela demonstração de superioridade de um povo, pela vingança de uma injustiça sofrida, pela honra, etc. A mitologia grega registra a histórica preponderância da guerra sobre a paz. Ares, o deus da guerra, tem assento no panteão olímpico. Já a Paz (Eirene), assim como a Justiça (Diké) e as Boas Leis (Eunomia) são divindades de menor hierarquia que integram o séquito de Afrodite. Atualmente, temos mais consciência sobre os males da guerra e procuramos evitá-la, pregando a solidariedade entre os povos, incentivando acordos entre países, alianças de caráter econômico, mas ainda não superamos os preconceitos, a intolerância ao diferente, à diversidade de cultura, religião, opinião, raça, etc, e os conflitos continuam. Temos enfrentado a guerra tanto em pequena escala, no dia-a-dia, quanto em grande escala. E ainda temos enfrentado novas formas de guerrear, muito cruéis, que cerceiam até mesmo a defesa da parte contrária e atinge, em sua maioria, civis, como o terrorismo. Assim, é um desafio para o Direito lidar com essa nova realidade, fazendo-se urgentes instrumentos mais eficazes para combater esse mal que atinge o seio social, atuando preventivamente ou repressivamente. Assim como a polis grega, as cidades contemporâneas, para bem funcionarem, precisam da união da Justiça, da Disciplina e da Paz.


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